quinta-feira, 31 de maio de 2007

Sem Comentários. Só Poesia.

Los hermanos

Yo tengo tantos hermanos,
que no los puedo contar,
en el valle, la montaña,
en la pampa y en el mar.

Cada cual con sus trabajos,
con sus sueños cada cual,
con la esperanza delante,
con los recuerdos, detrás.

Yo tengo tantos hermanos,
que no los puedo contar.

Atahualpa Yupanqui



PS - Borges que me desculpe. Yupanqui foi mais fundo no Gaucho e no Argentino.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Olha que Foto


Não sei de quem é a foto e nem de quando ou onde foi tirada. Ainda assim, uma foto impregnada de sentido.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Curtindo a vida adoidado

Lembra daquele filme chamado “Ferris Buller's day off” e que foi traduzido para Curtindo a Vida Adoidado? O Filme tinha como estrelas Mathew Borderick (Ferris Bueller), Alan Ruck (Cameron Frye), Mia Sara (Sloane Peterson), Jeffrey Jones (Dean Edward "Ed" R. Rooney) e uma Ferrari de coleção do pai do Rooney. Além disso, vinha com aquela música fantástica do Sigue Sigue Sputnik. Bom, os jovens se divertiam a valer na Ferrari do colecionador matando aula numa típica atitude norte americana, classe média, casaco de time universitário com as mangas brancas e o meio vermelho felpudo.

Bom. Me senti o próprio Ferris quando fui ao hipermercado curtindo uma de portador de necessidades especiais temporário. Parei na vaga de cadeirantes, chamei o carrinho elétrico e fui.

Cara, o carrinho do Wall Mart é um lixo. Muito lento. Deve ser modelo popular. Agora, o modelo do Extra era praticamente a Ferrari. 2.0, banco de couro e uma cestinha linda na frente. Andava pelos corredores ultrapassando as pessoas como se estivesse numa prova em Interlagos. Ultrapassava e ainda encarava os transeuntes, com meu cenho fechado e sobrancelha baixa, pensando: “Anda logo seu Bípede!!!”

A namorada de Ferris, sempre aflita, pareceu não curtir a lentidão do primeiro carrinho mas também, apresentou aflição com o Ferris cantando “twist and shout” feliz da vida numa parada tipicamente norte americana. A minha achou muita extravagância para um momento como aquele.

Curti à vera fazer a curva em duas rodas, saindo da sessão de utensílios de cozinha para a sessão de produtos de limpeza. Tirava finas dos azeites em promoção e cronometrava quanto tempo levava para percorrer a sessão de chocolates.

Mas nem só de diversão vive Ferris. Tem o diretor chato da escola e os pais desconfiados. Tem gente que te olha torto te achando muito feliz para ser “estropiado”, tem gente que te olha com pena. Gente que te deixa passar e comenta com o companheiro: “Coitado, num pode andar”.

Tem as dificuldades práticas pois, o carrinho é fantástico, mas o problema está na disposição dos produtos nas prateleiras. Os muito em cima e muito em baixo não são alcançáveis desde o carrinho. Dessa forma, o padrão de consumo de um cadeirante ou outro que precise do carrinho no supermercado está limitado às prateleiras do meio. Algumas frutas não se pode nem sonhar. Maçãs? Somente aquelas podrinhas que ficam na parte de baixo da gôndola. Batatas, cebolas, tomate? Esquece! Você só consegue alcançar as mais da ponta que são o refugo do que sobrou do dia anterior. Por mais que a cadeira seja parcialmente giratória ela fica longe de ser uma ótima solução para quem precisa. Ela é sim um avanço. Mas claro, ainda precisamos de muitas outras adaptações para que os portadores de necessidades especiais sejam respeitados ao menos como consumidores. Eu sei que minha condição é passageira mas, muito importante para sacar muita coisa boa e ruim.

Nesse momento já troquei o carrinho e as muletas por uma bengala mais parecida com uma “Dotanuki*” mas isso é estória para um outro dia...

* Dotanuki é uma espada de guerra utilizada no Japão do período Edo (1600 dc a 1867 dc)

sábado, 5 de maio de 2007

Incursões hospitalares na candangolândia - Capítulo V - O Derradeiro!

A Alta

O Doutor passou lá pelas 11 e me deu alta. Duas horas depois e de eu ter apertado o tal botãozinho incessantemente veio a enfermeira tirar o dreno e fazer curativo. Ela era a única no hospital. Estava fazendo mais de 20 altas ao mesmo tempo. Quem disse que hospital privado é tão melhor assim? Tirou meio metro de fio de dentro de mim: Diga-se de passagem a sensação mais esquisita que se pode ter. Não é dor, não é cócega, não é nada. É um calafrio rápido de ver uma pessoa tirar um canudinho do meio das suas entranhas. Pela segunda vez a Julia quase desmaiou. A bichinha não passa muito bem com essas coisas. O pior é que adora "E.R.".

A moça saiu dizendo que ia bipar a cadeira para eu ir embora. Nem preciso dizer que a cadeira de rodas levou outra hora para chegar né?
Quando chegou veio guiada por um rapaz: "Como o senhor que fazer? Consegue sentar sozinho na cadeira?" eu disse: Acho que consigo. Problema é que a perna não dobra. O rapaz: "Então como vamos fazer?" Pausa para contar até dez. Vontade de enforcá-lo com o fio do soro: "Amigo, quem deve dizer como vamos fazer é você. Eu não trabalho em hospital. Um fisioterapeuta me disse que podemos por a muleta na cadeira de rodas, eu sento em cima dela e fico com a perna esticada." Ele: "Doutor, que boa idéia." (Pausa para análise antropológica. Como brasília é uma cidade que tem muitos doutores, os serviços "inferiores" costumam chamar a todos de Doutor ou patrão, ou mesmo meu patrãozinho. Obviamente um lugar onde a revolução burguesa ainda engatinha. As revoluções sociais e os movimentos organizados ainda nem estão nos planos, mas isso é estória para outra publicação)
"Como o senhor vai fazer? Vai no banco de trás do carro." Mais uma variável a transpor: Como enfiar uma perna que não dobra num carro que não tem banco de trás? Posso dizer que a nossa volta para casa dessas férias foram, no mínimo, divertidas.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Incursões hospitalares na candangolândia - Capítulo IV

Hotelaria

Fui para o quarto que a Julia, depois de esperar 4 horas, conseguiu. Imediatamente tive muita fome e vontade de mijar. Como não podia me mexer pedimos o papagaio. Umas duas horas depois ele chegou, lindo faceiro e brilhante como se estivesse ON TIME. Seu portador, um enfermeiro, perguntou do que eu tinha operado. Um curativo enorme e dreno saindo da coxa. Tive vontade de responder: "Operei o tórax mas, você já ouviu falar em tirar água do Joelho? Por isso colocaram o dreno lá. É mais fácil sair por aquela parte do corpo..." Mijei como nunca e não dormi como sempre.

Havia um botãozinho do meu lado que supostamente chamaria o serviço de quarto. Apertei algumas vezes mas nunca ninguém aparecia. O que rolava mesmo era a Julia sair pelos corredores e fingir que eu estava tendo um choque anafilático grave. Assim eles apareciam. Hotelzinho meia boca viu?

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Incursões hospitalares na candangolândia - Capítulo III

Sala de recuperação


Eram 4 pessoas. Um senhor operado do joelho que vomitava sem parar por causa da anestesia. Uma menina de pele negra e seios fartos à mostra também com as pernas operadas. Eu e uma pessoa mais ao longe. Acho que uma senhora. A Sala: Nada de especial para uma repartição pública. Um telefone que não parava de tocar e ninguém para atender. Comecei a sacar as coisas. Alguém precisava dizer para o senhor virar a cabeça para o lado para não morrer asfixiado no seu vômito. Alguém precisava cobrir a menina dos seios pois ela ainda tinha dignidade, humanidade e todos os seus valores morais apesar da anestesia. Alguém precisava acudir a senhora do outro lado. Sem óculos, só podia ver que a oxigenação do sangue dela estava em torno de 60%, e caindo...

Tive vontade de levantar. Parecíamos abandonados. Para férias, esse tipo de estresse já não está legal. Chegaram duas enfermeiras que ajeitaram o senhor para ele vomitar para o lado, cobriram a menina de seios fartos e puseram a senhora no respirador. Só não atenderam ao telefone. Já procurava algo ao meu alcance para jogar na invenção de Bell.
Pedaços de carne estirados numa sala vazia. Impressionante como a impressão ainda era de total falta de humanidade.


quarta-feira, 2 de maio de 2007

Incursões hospitalares na candangolândia - Capítulo II

A Cirurgia

Mais uma salinha. Me colocaram de avental invertido numa sala mais fria ainda, sem óculos, numa cadeira do papai, um controle remoto e uma TV de plasma. Mesmo com suas milhares de polegadas eu não faço a mais parca idéia do que estava passando. Tudo maravilhoso. Tudo como mandam as melhores férias. Só veio o banho de realidade quando notei que na mesma sala, dentro do centro cirúrgico uma senhora, agarrada à mão do seu médico perguntava se não era um sinal para ela não fazer a complicada operação no cérebro. Tentei prestar atenção na TV.
Médicos transitavam com roupas ensangüentadas falando nos seus celulares. Instrumentadores circulavam com pedaços de metal que mais pareciam espadas de Shoguns. Uma cena de filme de terror. Agora me sentia um boi indo ao abatedouro. Nesse momento toda minha humanidade tinha se esvaído e uma coisa grotesca e bárbara tomava conta da minha personalidade. Nesse momento de reflexão exaustiva, cresceu uma enfermeira. Quando pensei que ela ia falar comigo recuperando um sentimento mais proto-humano, ela simplesmente cobriu meu encolhido membro... (talvez valha a reflexão sobre a civilidade humana, sobre valores morais ou algo que se refira ao sentimento menos Neandertal imbuído no ato de cobrir o membro que repousava numa fresta de avental invertido ...)

Dali me chamaram para a sala de cirurgia. A enfermeira andava rápido e eu sem óculos, com joelho doente e ainda com o avental invertido a deixei nervosa: "Vamos, o senhor tem que me acompanhar". Expliquei com calma: Estou sem óculos e minha perna dói. Não posso andar mais rápido. Olhou com desprezo e continuou andando:

"Sobe nessa maca aí e põe o braço nesse apoiador." Note que já estava na sala de cirurgia sem ter deitado em nenhuma maca, sem nenhum tipo de assepsia. Colocaram o soro e os medidores de pressão e batimentos cardíacos. A sala permanecia de portas abertas e os enfermeiros circulavam de cá para lá como se estivessem no parque da Mônica. Falando de namoros, de encontros, de forró, etc,etc.
"O senhor vai operar a perna direita ou esquerda?" "Direita", afirmei. Um outro enfermeiro: "É ligamento né?" "Não, é artroscopia no menisco direito" categorizei. Não havia nenhum prontuário que desse informações sobre mim. Então, antes que me apagassem eu pedi uma caneta e escrevi na perna: "É ESSA". Também pensei em escrever que era asmático e que tinha alergia mas minhas mãos não iam tão longe.
Falava-se no celular, enfermeiras usavam brincos enormes e pior: OUVIA-SE LEGIÂO URBANA. O circuito interno se mostrava brasiliense e só tocava legião. Pensei em sair correndo e gritando. Fiz melhor. Chamei um assistente e perguntei: Tem IRON ou AC/DC? Obviamente o cidadão se fez de desentendido.

Refleti. “Se sou o "cliente" (versão reestruturada e "downsized" do antigo paciente), o que vai sofrer o procedimento, deveria poder escolher a música não é?" Passou uma das enfermeiras e resolvi cuidar de mim. "Enfermeira, quanto está a minha oxigenação no sangue?" Ela disse: "100%". ótimo para um asmático. Fiquei tranqüilo.
O doutor entrou, começou o procedimento e resolveram me apagar apesar da anestesia peridural. Como disse que tinha asma por estresse acharam por bem não me causar nenhum, naquelas tranquilas férias.
Doutor operou o joelho certo. Melhor. Foi a primeira operação que fiz onde o médico vem te mostrar o que tirou de dentro de você. Me mostrou uma coisa amarela e meio molenga. Supostamente meu menisco medial. Exibiu a mim como se tivesse parido aquela coisa e como se o joelho fosse a coisa mais linda do papai e do mundo. Entendi, de uma vez por todas, porque dizem que nenê tem cara de joelho.