sexta-feira, 23 de julho de 2010

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domingo, 11 de julho de 2010

Dias Divinos

Por Re

Entre os dias 24/05 e 08/06 deste ano cristão, o Rê esteve em santas terras. Lá, quase tudo é santo para qualquer pessoa monoteísta deste mundo. Um lugar onde religiões, história e alguns problemas são a tônica.

É tanta santidade em um mesmo local que, para chegar lá, o cidadão – leigo ou não – precisa passar por uma série de provações. Ainda em terras tupinambás o dito é visto e revisto, entrevistado, averiguado, torcido e, no caso deste escrevente, RE-torcido.

“Por que o senhor vai para Israel?”, pergunta a loira. Vou para um simpósio na Universidade de Haifa. “Quem o convidou? Quem pagou a passagem? Qual a programação? Vais falar sobre o que?“ Tudo esclarecido, e translúcido.

Vamos para o embarque. Calma. Ainda não. Vem outro distinto e santo cidadão e começa o inquérito outra vez. Separam-te do teu amigo e o fazem as mesmas perguntas. Saquei. Algum tipo de averiguação pra ver se as histórias batem né?

A passos de adentrarmos o santo avião, somos solicitados a uma salinha a parte. São os penúltimos procedimentos do calvário para se embarcar à santa terra. Uma almofadinha ligada a fios faz uma varREdura corporal e entre os bens elétricos para tentar localizar vestígios de materiais explosivos. Depois de duas horas em procedimento de segurança, e já no calmo e tranquilo conforto da poltrona 56D do avião, a última das estações da Via Dolorosa: Kiko, companheiro de Re para essa aventura divina, é retirado e sua confortável poltrona para dar explicações do por que tem uma Galabéia (roupa árabe) e um alcorão em sua mala. Uma pressão psicológica que pode fazer-te confessar o inconfessável.

Após toda problemática segurancesca e algumas (muitas) horas de voo chega-se a Tel Aviv. Rê e seus peregrinos seguem diretamente a Haifa, no norte do país. Cidade alta, que observa o mediterrâneo a Oeste e o Líbano 20 Km ao norte. Alvo de Scuds e Katiushas durante a guerra de 2006, a paranoia militaresca parece não ter fim.

Treina-se para ataques, revista-se em shoppings, estações de trem, ônibus, etc. Apesar disso, Haifa é uma das cidades mais mix de Israel. Cristãos, Judeus e Árabes Muçulmanos convivem em perplexa harmonia. Na universidade, meninas de lenço à cabeça circulam risonhas entre as desnudas israelenses sem grandes problemáticas. No entanto, soa o alarme. As pessoas correm ao bunker. É o dia nacional de treinamento anti, até, após, de, desde, com, contra o terror. Re, encostado em uma parede do Bunker e observando o movimento reflete. “Imagina esta menina Islâmica aqui da frente. O que ela deve estar pensando? Tipo: To aqui nesse bunker, fazendo um ensaio pra me proteger do meu povo que pode me atacar a qualquer momento”. Isso deve dar um looping na cabeça do ¿cristão?, não é? Cruz credo!

Apesar de tudo, o ambiente científicuniversitário do topo do Monte Carmel é altamente estimulante. A cadeira de estudos latinoamericanos tem gente muito interessante. Até aulas de salsa pudemos assistir.

Na cidade, as casas denunciam a qual das religiões ali congregadas o cristão pertence. As casas católicas têm cruzinhas, as casas árabes são arredondadas, douradas e as casas judaicas são do mais puro Bauhaus. O silêncio noturno impressiona ao mesmo tempo em que as manifestações políticas e culturais rompem o frio desértico. Em uma quadra de futebol lê-se fortemente em uma pichação em 3 línguas (Inglês, Hebreu e árabe). “I LIVE HERE!” É como um soco no estômago. Como um manifesto contra todo o resto, toda a problemática, toda a questão santa, política e econômica. Um grito contra tudo isso. Independente de qualquer coisa, eu moro aqui Pô!!! Sou daqui! Sou profundo como as raízes de uma oliveira!

O alarido dos corvos que cobrem o país soa esquisitíssimo e sombrio para quem está acostumado com ararinhas azuis, periquitos verdes e canarinhos alegres. Mas o dia é claro, o mar é azulíssimo e o sol escaldante.

Nos dias de simpósio, quase não vemos a luz do sol. Quando saímos da confortável sala de conferência, nos deparamos com algo inusitado. O sol não brilha mais. A realidade turvou. Ficou pálida. É uma tempestade de areia. Fontes seguras afirmam que ela vem do deserto da Líbia e que são a mais eficaz arma de Kadafi. O tempo fica frio pois a camada de poeira impede a passagem do sol. O vento assobia nas janelas durante dias. Tudo isso, somado aos corvos dá uma sensação Hitchcoquiana.

Indo um tantinho mais ao norte, na Galiléia, chegamos a Akko, ou Acre. Uma cidade árabe que tem habitação registrada no século 16 ac (antes do cara). Teve ocupação bizantina, otomana, Grega, Romana e participou da guerra de 1947. Na idade média foi ocupada por cavaleiros cruzados. Por isso é cheia de rotas de fuga, de vielas e passagens subterrâneas. Segundo Laurcence Olifent (1882): “Não há outra cidade na costa Síria, de Antióquia a Gaza que tenha sua história tão repleta de eventos e que a influência nos destinos do país tenha sido tão preponderante como Acre.”

Prosseguindo a peregrinação nos movemos para Tel Aviv. Não sem antes sofrer o Shabbat. Esperamos o ônibus sair às 9 horas da noite de sábado pois, no Shabbat pára tudo. Tudo mesmo! De sexta, ao cair da tarde até sábado, ao despertar da noite, o pais parece adentrar o mundo do Blecaute.

Tel Aviv se apresentou como uma cidade praiana moderníssima, sofisticada e agitada. Mulheres em Top Less e cidadãos somente de cuecas banham-se nas águas do mediterrâneo. Não fosse pela constante lembrança da tensão promovida pela ampla circulação de helicópteros militares em formação e pelo compartilhamento de espaços praianos com fuzis M-16, a coisa pareceria totalmente caribenha.

Todos os Israelenses e mais outros judeus agregados, servem ao exército por 3 anos. Em parte desse período precisam circular sem se desgrudar de seus poderosos fuzis. Isso promove cenas completamente bizarras. Cidadãos de shorts tomando sol com sua M-16 atravessada no peito. Meninas de shorts e parte de cima do biquíni portando o mesmo acessório bélico. No ônibus? No Metro? Basta frequentar o transporte coletivo para se habituar com o cano dessas artilharias cutucando suas partes mais íntimas.

No cantinho esquerdo de Tel Aviv, preservada no tempo, está Yaffo (ou Jaffa). Seu nome significa “Bela” e é tida como um das mais antigas cidades do mundo. Tem origem árabe e há registros de ocupação desde 7 mil anos antes do cara. De lá se vê toda Tel Aviv com seus prédios ultramodernos e sua atividade incessante (Leia-se por “incessante” todo o período que exclui o Shabbat). O por do sol apreciado desde a cidadela é simplesmente inebriante

Depois da experiência surreal e pós moderna de Tel Aviv, prosseguimos na viagem ao tempo, ao espaço e às crenças. Ao adentrar um dos três portões de Jerusalém antiga, é como uma viagem a outra galáxia muito, muito distante. Personagens exóticos do star wars circulam pelas vielas não menos míticas. Essa cidade de ocupação de 3 mil anos antes do cara, é a Meca de todas as religiões monoteístas da paróquia.

Árabes cobertos, judeus ortodoxissimos e católicos fervorosos se esbarram em ruas de 2 a 3 metros de largura em um constante vai e vem peregrino. Um parque temático das religiões monoteístas apimentado pela política recente e pela história antiga. Jerusalém é Babilônia com sua intensidade, é Meca com sua importância e é Tatooine em sua aparência de ficção científica.

Diferente de Jaffa e de Akko, Jerusalém antiga é enorme e é pujante. Não é estática como um museu. Pelo contrário, é uma cidade habitada. Comércio, escritórios de advocacia, Hostels, restaurantes e outros quitutes encaram-se a 2 ou 3 metros de distancia do outro lado da rua onde há salas de estudos da Torá, do Talmud, do Alcorão, da Bíblia. Judeus se balançam no muro das lamentações enquanto Islâmicos deitam-se na mesquita do Domo da Pedra e os Católicos tomam hóstia depois da missa no Santo Sepulcro.

No entanto um estranhamento me assola. Estar na cidade das religiões por motivos diferentes da peregrinação, não conhecer o Alcorão, nem a Torá e nem a Bíblia, é como ir à Disneylândia sem ter ouvido falar do Pato Donald e do Mickey e, pior, sem ter visto Fantasia. Não é que as coisas ficam sem sentido. É que elas ficam sem espírito, meio desalmadas. O sentido histórico é forte, mas o sentido da crença não habita este ser. Com isso, a via Dolorosa não provoca muita dor, o muro ocidental não ostenta tantas lamentações e a pedra do Domo não explica a formação do mundo.

Em meio a tanta santidade ouve-se um ruído. A TV Al-Jazeera não tarda em noticiar. A CNN está monotemática. O Haaretz continua sua rotina. O exército israelense atacou um barco que furou o bloqueio militar para levar ajuda humanitária a Gaza. Foram seguidos pelo exército por dias e noites. Foram alarmados para voltar. Foram pressionados a recuar. Foram iluminados por holofotes, filmados pelo mundo todo. Resultado de tudo: Várias pessoas mortas e o barco invadido. Nesse momento sentimos alguma tensão no clima da cidade. Vimos alguns protestos localizados e, numa tenda de víveres, o mercador árabe nos chamou ao fundo da sua loja. Mostrou-nos a televisão sintonizada na Al-Jazeera e pronunciou em inglês macarrônico: “Vejam só o que os Israelenses estão fazendo conosco...”

Por alguns instantes colocamos em cheque os próximos passos da viagem. Palestina? Jordânia? Será seguro? Conseguiremos RE-entrar em Israel?

Como ainda tínhamos dois dias, fomos sentindo o clima. Vendo se rolava uma empatia. Sacando se tinha treta... Depois que alguns turistas nos informaram que estava sossegado do outro lado do Check Point, resolvemos seguir viagem.

Passamos por Jericó e Ramallah sem transtornos adicionais. Os únicos que sofremos foram os Check Points Israelenses e a temperatura sempre próxima de 45º. A região está a 250 metros abaixo do nível do mar no meio do deserto. É praticamente um forno de micro ondas a céu aberto! Tomando café com cardamomo e nos transportando de ônibus locais, fizemos um passeio turístico interessantíssimo.

Cruzando a fronteira, adentrei, pela primeira vez em um reino. O Rei Hussein da Jordânia está estampado em todas as paredes e outdoors do pequeno país. Na única passagem de fronteira por onde os palestinos podem entrar em Israel a partir da Jordânia (Allemby Bridge), não sei onde eles estavam. Imaginamos a ponte da amizade só que com soldados israelenses dando coronhadas em palestinos. Para além dos avisos da possibilidade de minas terrestres, nada tirou o sossego daquele posto de fronteira enquanto estávamos por lá.

Em uma hora chega-se a Aman. Esta, se parece com La paz. È cercada de montanhas e o trânsito é caótico. Lá, fumamos Narguile, tomamos café com cardamomo, fizemos comprinhas, curtimos o som das mesquitas e nos mandamos. Na verdade não foi tão simples assim. O ônibus para Wadi Musa e Petra saía da rodoviária. No entanto, a rodoviária era simplesmente um espaço aberto, sem sombra e sem água. Para completar, o ônibus só parte com lotação esgotada. Como fomos o primeiros a chegar, esperamos bastante tempo ao sol até que partíssemos.

A viagem foi longa. Quatro horas onde cruzando o país quase todo. No entanto, chega-se a Petra. Uma das 7 novas maravilhas do mundo, a cidade foi ocupada por volta de 1200 ac pelos Edomitas. Como fazia parte da rota da Seda a cidade foi muito importante em muitos momentos históricos. Foi dominada pelos Romanos, pelo Império Bizantino e depois pelo Hollywoodiano.

O que nos pareceu interessante é que o parque arqueológico de Petra parece ser administrado pelos habitantes da Região, os Beduínos. Ao menos, todas as atividades comerciais do local são de direito deles. Dessa forma, te-los expulsado das cavernas não significou uma alienação completa de sua terra e seus costumes.

Sobre o lugar? Não entra na minha lógica craniana a possibilidade de alguém ter esculpido aquele Teatro e o Monastério em rocha, quanto mais há 3 mil anos. Melhor pensar que é algo divino, como tudo por lá.

Sem contar que os Nabateus não desenvolveram um estilo arquitetônico próprio e resolveram copiar Romanos e Bizantinos. Que gente mais sem criatividade... Cruz credo! Como se fosse necessário ter um estilo.

Nessa incursão nababesca – quer dizer, Nabateusca - conhecemos Sami. Um Beduíno versado em Inglês e casado com quatro mulheres que nos chamou para um jantar no deserto. No distinto, e iluminado pelas estrelas, recinto desfrutamos de arroz temperadíssimo e frango. Sami nos informou que os Beduínos pintam os olhos com carvão para proteger da areia e com isso desvendou uma das maiores questões biométricografisticas da etnográfica viagem. Cada Beduíno que vimos ficávamos tentando observar se os olhos circundados de negro eram biológicos ou pintados.

É hora de iniciar o caminho de volta. Optei por me separar de meu companheiro e seguir sozinho pelo sul da Jordânia, de Israel e galgar a direção norte até Tel Aviv. Nesse caminho, saio de Jordânia por Aqaba. (Não é Agrabah do Alladin). Essa cidade de mais 4 mil ac é a única saída para o mar da Jordânia. O Mar Vermelho - aquele que o Moisés abriu pra galera judiada passar - tem esse nome por que as montanhas a sua volta tomam a cor rubra ao entardecer. É um espetáculo!

Ao cruzar a fronteira, o portal dimensional se desfaz, A viagem no tempo se encerra e você cai em Eilat. Essa cidade é uma zona franca e turística ao sul de Israel. Tem hotéis caribenhos, baladas eletrônicas e biquínis estilo calçolão.

Saí rápido de lá e me pus no deserto no Negev. O lugar é árido demais. Existem alguns Oásis e Kibutz pelo caminho mas, a verdade, é que realmente não compreendi por que é que se briga por aquilo ali. Não tem água alguma, não tem vegetação, faz 43º constantes e não aparece uma odalisca sequer, mesmo nas miragens mais criativas. Em alguns momentos veem-se plantações incrivelmente verdes pois os Israelenses tem uma técnica de irrigação por gotejamento que faz nascer bananeira até em rocha, mas é só.

Embotados de história e ainda mais interessados nesse mundão, praticamos a volta à nossa terra sagrada, sacrificada, o retorno ao nosso Tapiri noah*. Foram quase 3 dias entre os beduínicos desertos do Oriente Médio e meu tépido apartamento no cerrado brasiliense. Valeu! Todarabat**! Chucram***!


* Palavra que, além de bíblica (Noé) significa “Confortável” em hebreu.

** Obrigado em Hebreu

*** Obrigado em Árabe


Fotos Ilustrativas dos Dias Divinos. Clikqui

Vídeo Ilustrativo: Chamada Mesquitas



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