quinta-feira, 21 de maio de 2015

O combustível da visão de mundo



Hoje tem aquela promoção que retira os impostos que recaem sobre o combustível.

A turma fica numa fila imensa para consumir combustível mais barato e acho que isso revela uma visão de mundo.

Então, sobre isso, eu queria aqui fazer algumas perguntas pois eu realmente não consigo entender essa visão.

Para tal a gente precisa fazer constituir uma premissa.

- A gasolina tá cara!

A partir daí começamos as perguntas.

Por que a Gasolina está cara?

Pra rapaziada que está na fila, ela está cara por que os impostos são altos. E, nesse sentido, a culpa é do Governo. Certo?

Mas a gasolina está cara só por que o governo quer? (Sim, é pra vc responder isso mentalmente para seguirmos nos raciocínio).

Existe uma conjuntura internacional que está encarecendo os combustíveis, existe a raridade do produto, existe uma preocupação socioambiental, etc.

Mas ok, seguimos no pensamos mais rápido e rasteiro.

Vc acha que o governo é o que mais lucra com a alta dos impostos sobre os combustíveis?

Se vc acha que sim, temos um problema. Primeiro por que governo não lucra. Dinheiro de impostos é o que o faz constituir e executar políticas públicas (talvez mesmo aquela segurança pública que vc tanto quer). Naqueles países nos quais a gente se baseia como ideal de vida e prosperidade (os nórdicos) as alíquotas de impostos são altíssimas.  Mas ok, isso vc já ouviu 1.554 vezes e não se convenceu que o estado é o melhor agente para distribuir riqueza.

Vc insiste na história da redução de impostos. Eu formulo outras sub-premissas e, sobre elas, outras perguntas.

Digamos que se consiga uma redução de impostos. O empresariado fica feliz. Investe, gera empregos e aumenta seus lucros.

Bem, se eles aumentam seus lucros, por que é que a gente, lá no começo do texto, não se manifestou contra o aumento do lucro do dono do posto? Por que ele não promove um dia de postos sem lucro, mas com imposto para a gente ver como fica?

Existe na economia uma coisa que chama “propensão marginal a consumir”. Digamos que a economia é baseada no consumo privado (e, hoje no brasil, ela é). Esses empresários aumentando seus lucros vão ficar mais ricos. Vão reinvestir uma parte desse lucro.

Mas aí começam as perguntas outra vez.

Um empresário que tem uma família de 4 pessoas e consome 5 kg de arroz por mês. Vc acha que por ficar alguns milhões mais rico ele vai consumir mais arroz? Acho que não. A propensão marginal a consumir cai...

Por outro lado ele gerou empregos pois paga menos impostos. Mas para garantir seu lucro, vc acha que esses empregos serão de boa qualidade? Ótimos salários, garantias trabalhistas, etc?

Entendo que, para gerar economia de escala, o melhor seria 50 famílias consumindo 5kg de arroz por mês. E, para tal, precisaríamos ter uma distribuição dos recursos disponíveis. Vc acha que a iniciativa privada com todos os seus interesses e ganâncias pode ser agente desta distribuição?

E veja, não estou aqui fazendo apologia à planificação da economia, ao socialismo ou qualquer outra forma de compartilhamento dos bens e recursos. Estou falando sobre economia de mercado! Estou falando de consumo! Falando de demanda!

Sobre a fila da gasolina em específico, ainda tenho outras variáveis a considerar no nosso sistema. Por exemplo: Como estamos em Brasília, acredito que ao menos uma fração importante das pessoas que, por lá permanecerão por horas, são funcionários públicos, que estão deixando de realizar serviços de atendimento à população para abastecer seus carros. Talvez ele mesmo o manifestante que vai pra rua dizer que o Estado não cumpre seus prazos ou não realiza com excelência seus serviços...

Outra: É mister que aqui em Brasília há um cartel dos combustíveis. Só pra vcs terem ideia, todos os postos vendem o combustível ao mesmo preço (em consonância com as leis de mercado que eles mesmos promulgam?) – Ixi. Já comecei a fazer perguntas outra vez.

Melhor encerrar né? (eita quanta incerteza, interrogação outra vez).

Xau!
 
 
 
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