Desde Junho temos vivido
manifestações diárias e difusas. Na semana de 30/09 a 05/10/2013, por exemplo,
cerca de 1500 indígenas estão acampados na Esplanada dos ministérios em
Brasília. Estão agrupados para celebrar a constituição de 1988 e evitar sua
morte, caso sejam aprovadas emendas como a PEC 215/2000 e o PLP 227/2012.
Manifestações esparsas e
desideologizadas, talvez até impregnadas de uma falta de sentido ou de um
descolamento da visão sistêmica. Manifestações de grupos privatizados com
pautas específicas e falta de uma coesão ideológica que nos agregue a todos. Desunião
conservadora, elitizada e afastada dos tratos populares. Uns falam em redução
das tarifas dos ônibus urbanos, outros contra a corrupção, pelos direitos dos
homoafetivos, contra a PEC37, por plano de carreira dos professores, por
reforma política, contra o programa mais médicos, entre tantas outras pautas iconizadas
pela desagregação típica da pós modernidade.
Ora, esta visão é simplista e ela
sim, desagregadora. A partir da década de 1960 na América Latina viu-se
marciais à frente dos poderes nacionais e uma massa de militantes contra a
ideologia dominante. Nesta data, nem tão querida, havia “lado”. Havia direita,
havia esquerda, havia conservadores militares e havia progressistas. Havia EUA
e URSS, havia cabelinho bem cortado e havia os revoltos compridos, e tantas
outras opções claramente dicotômicas a serem feitas.
Não importando a vontade ou a
afeição de cada opção, realidade é que cada uma das sensações era passional e
as opções maniqueístas eram permeadas por uma ideologia e um conjunto de
valores dominantes. Optar contra a ditadura significava, imediatamente, aderir
à ideologia da “esquerda”, unir-se à vermelhidão soviética, às vestes hippies e
a gostar de Violeta Parra e Victor Jara.
Essa ideologia da esquerda proveio
de manuais da época da revolução industrial, de outubro de 1917 e Maio de 1968.
Em uma dessas obras, uma das percepções mais interessantes era a de que a
superestrutura política e as relações sociais emanavam das relações diárias de
produção. Era de “O Capital” do Prussiano Karl Heinrich Marx a
concepção de que as relações diárias, corriqueiras, do âmbito da produção
cooperavam para conceber o traço da ideologia e, a partir delas,
constituir-se-ia os princípios do que se tornaria sistêmico. Era das conversas
entre trabalhadores oprimidos na linha de produção que erigir-se-iam as ideias
que conformariam uma ideologia, que cooperaria para formar a superestrutura política
de governo e, assim, o sistema social se estabeleceria.
Dizia ele eu
seu livro: “(...) na produção social da
própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e
independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem
a uma etapa determinada de desenvolvimento de suas forças
produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a
estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma
superestrutura jurídica e política, e á qual correspondem formas
sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material
condiciona o processo em geral da vida social, político e espiritual. “
Ora, outra vez. Nas ultimas
décadas do século XX os movimentos eram calcados na ideologia para poder mudar
a orientação social. Fazia-se a opção ideológica e, baseado nela,
encaminhavam-se as pautas práticas. No
século XXI, após a constatação de que o sistema social avançou menos do que se
esperava no século anterior, toma-se uma nova atitude. Inverte-se a lógica. Pautas
práticas, específicas, esparsas, corriqueiras, menos ambiciosas tomam o lugar
das grandes questões assim como conversas minimalistas no ambiente laboral.
Lembra que
destas relações minimalistas, práticas, pequenas, no ambiente de trabalho, no
trato diário, é que se erige a superestrutura política de onde emanam os
aparelhos de governança que fortalecem a visão sistêmica e a conduzem para
transformar-se em Sistema Social Vigente? Assim, as manifestações esparsas,
minimalistas, pragmáticas, pequenas, pintam-se de relações diárias, de relações
de produção para que, quando atendidas, façam erigir sobre si um aparato
político social que, por fim, e respeitando o processo histórico, amparem
transformações sistêmicas mudando o Sistema Social Vigente. É só uma diferença
de método: Em 1960 nos alinhávamos ideologicamente para depois aplacarmos as
atividades que refletissem esta ideologia. Agora, enfatizamos as atividades
para depois erigirmos sobre ela a ideologia.
Disse o barbudo outra vez: Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu
ser social que determina sua consciência. Em certa etapa do seu
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em
contradição com as relações de produção existentes.
Sobrevém
então uma época de revolução social. Com a transformação da base econômica,
toda a enorme superestrutura se transforma.”
Mas péra: Essa visão das pautas
diárias, das relações de produção, erigindo sobre si uma superestrutura
política que tece o sistema social não é calcada nas letras do livro “O Capital” do Barbudo que serviu de Manual
para a ideologia da esquerda? Pois então, onde está a privatização conservadora
e direitista do momento?
Seguimos manifestando. Estamos fazendo
nossas relações de produção. À frente veremos a superestrutura que estamos
gestando.
Renato Bock
Tamu junto! Manifestando para transformar!
ResponderExcluirÉ isso né Li? Manifestações Freireanas sempre!!!
ExcluirExato Renato, e a vida, o concreto, continuará sendo a síntese das multideterminações. Abc Edgar
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