terça-feira, 28 de setembro de 2010

Castração da produção da subjetividade

Folha de São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010 

ANÁLISE 

Vida em único espaço atrapalha sociabilização das pessoas
ANA MERCÊS BAHIA BOCK
ESPECIAL PARA A FOLHA 

Viver em um espaço restrito tem sido uma preocupação importante para a psicologia, pois estudos têm demonstrado que há um empobrecimento psicológico e social quando a vida toda cabe em um espaço delimitado.
Seja ele um condomínio, um manicômio ou uma prisão.
Parte-se da ideia de que o desenvolvimento psíquico se dá na vida cotidiana.
As experiências do dia a dia, as relações sociais e o contato com a cultura de nosso tempo nos permitem um triplo processo:
De humanização (nos tornamos humanos à imagem e semelhança dos humanos adultos de nosso tempo), nos socializamos (nos apropriamos das especificidades
da cultura de nosso lugar) e nos individualizamos (nos singularizamos).
Quanto mais rico é todo esse processo, melhores são os resultados em termos de desenvolvimento pessoal e coletivo.
A juventude é um momento rico, pois os sujeitos estão abertos ao novo, exatamente porque estão em busca da identidade adulta.
Querem conhecer, experimentar, testar, vivenciar na busca da construção de seus gostos, preferências, hábitos.
As metrópoles e seu cotidiano violento restringem o espaço da cidade, e os jovens têm sido as maiores vítimas desse processo.
Sejam aqueles que ficam presos nos condomínios e shoppings "seguros"; sejam os que não podem ultrapassar
as linhas de entrada destes lugares. Todos perdem.
A restrição dos espaços pode ainda obrigar os jovens a uma mesma atividade, que se torna hábito e que repete uma mesmice empobrecida.
Por exemplo, consumir artigos supérfluos e consumir sem parar, sem que a necessidade se veja em algum momento satisfeita. 
 

ANA MERCÊS BAHIA BOCK , 58, é psicóloga, professora de psicologia social e da educação na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), membro do Instituto Silvia Lane de Psicologia e Compromisso Social. Foi presidente do Conselho Federal de Psicologia e é autora de vários livros.

Um comentário:

  1. Ótima reflexão, mas me parece que está cortada, né? Devem ter cortado para caber no espaço do jornal.

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