Escrevi esse texto faz 10 anos. Ainda assim, fazendo uma pesquisa, o achei publicado na net. Pra os economistas e fetichistas dos números de plantão, é uma análise bem humorada de um índice em particular. 
Keynes e os absorventes femininos
(Renato Bock, 2002-04-29)
(Renato Bock, 2002-04-29)
Keynes muito provavelmente  entraria em surto ao ver uma situação como esta: O preço da  estabilização de nossa moeda e a subserviência às regras do FMI  "sucatearam" nossa população ao ponto de apenas um entre cada cinco  brasileiros poder ser considerado consumidor. 
A propaganda na TV prega a  liberdade de escolha, pelo melhor produto e/ou pelo menor preço. Mas  pergunto, que escolha? A maior parte da "sucateada" população brasileira  não pode sequer comprar itens básicos como absorvente feminino, quanto  mais escolher aquele super fininho, com abas laterais. 
Por acaso você sabia que a média  mundial de consumo de absorventes femininos da classe média é de oito  unidades por mês por mulher?
Acho que você nunca tinha parado para contar quantos realmente usa. E mais, se algum dia contou, nunca apontou suas conclusões para seu namorado ou irmão não é?
Acho que você nunca tinha parado para contar quantos realmente usa. E mais, se algum dia contou, nunca apontou suas conclusões para seu namorado ou irmão não é?
Mas a bomba vem agora. No Brasil  esta média só chega a dois, mesmo considerando todas as classes de  consumo. (Fonte: Santher, Fábrica de Papel Santa Therezinha S/A Apud  Revista Carta Capital, 03/04/2002, n.º 183, p. 29)
Pode parecer piada, mas se  usarmos este dado como indicador de má distribuição de renda nos  curvaremos à triste realidade brasileira. Este dado tanto traz incômodo  aos economistas "cientistas sociais" como aos "fetichistas dos  indicadores" (Aqueles apaixonados pelos índices).
A renda das classes C, D e E brasileiras são sequer suficientes para que os mesmos tenham conta em banco. (LatinPanel/Ibope Apud Revista Carta Capital, 03/04/2002, n.º 183 ).
A renda das classes C, D e E brasileiras são sequer suficientes para que os mesmos tenham conta em banco. (LatinPanel/Ibope Apud Revista Carta Capital, 03/04/2002, n.º 183 ).
Se nosso destino é mesmo nos  transformar numa nação capitalista precisamos primeiro "construir"  consumidores. Para cumprir este objetivo é preciso promover a   distribuição de renda. Para Keynes, o Lord do capitalismo de Estado, da  Social-Democracia e de tantas outras facções deste sistema de produção, a  concentração de renda não conduz ao aumento de consumo, pois chega-se a  um ponto onde o capital acumulado supera a capacidade de satisfação de  qualquer necessidade humana através da aquisição de mercadorias e  serviços. O destino do capital é então a poupança ou alimentação um  mercado financeiro cada vez mais especulativo.
Neste sentido, a concentração de renda conduz a uma redução no consumo, que por sua vez acarreta uma contração na produção, nos encaminhando fatalmente a uma redução no motor do capitalismo que é a taxa de lucro.
Neste sentido, a concentração de renda conduz a uma redução no consumo, que por sua vez acarreta uma contração na produção, nos encaminhando fatalmente a uma redução no motor do capitalismo que é a taxa de lucro.
A distribuição de renda se faz  necessária se almejamos algum tipo de desenvolvimento social e  econômico. Sob a ótica Keynesiana, onde o consumo é a base da acumulação  capitalista, a solução do problema não se resume à divisão igualitária  da riqueza. O fomento do consumo interno, deve ser seguido de um aumento  proporcional na produção e na estrutura de distribuição das  mercadorias. A simples distribuição de renda conduziria a uma explosão  na busca pela satisfação de necessidades através da aquisição de bens e  serviços, que não correspondidas pelo mercado levariam, certamente, a um  processo inflacionário. 
Capacitar a maioria dos  brasileiros a comprar produtos básicos como o absorvente feminino, mesmo  que não seja aquele com abas laterais, é a forma mais básica de  inclusão social, e de garantia de dignidade merecida por qualquer ser  humano. 
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Renato Bock - mr_bock@hotmail.com
Economista e pós-graduando em Economia Social e Desenvolvimento na América Latina - PUC-SP.
 
Renato Bock - mr_bock@hotmail.com
Economista e pós-graduando em Economia Social e Desenvolvimento na América Latina - PUC-SP.
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